Lunário Perpétuo – Um almanaque com a riqueza de seus ensinamentos

01/05/2020 0 Por afs
Lunário Perpétuo – Um almanaque com a riqueza de seus ensinamentos

“[…] incomparável elemento de consulta e de deleite […]”, palavras do folclorista Luis Câmara Cascudo sobre o Lunário Perpétuo. Um almanaque ilustrado com xilogravuras que reúne em seu conteúdo assuntos de diversas áreas do saber ordenados de maneira atraente e encantadora. Composto originalmente em espanhol pelo astrólogo, matemático e naturalista Jerônimo Cortez, valenciano, com a sua primeira edição em 1592, e inúmeras reedições ao longo do tempo, inclusive com a alteração de seu título e conteúdo. Nessa época eram comuns publicações desse gênero, amplamente difundidas pela invenção da imprensa de tipos móveis.

Capa do Lunário Perpétuo

Esse curioso, interessante e amplo almanaque ensinava a ciência dos astros, horóscopos, eclipses, fases da lua, previsões do tempo, mitologia, remédios estupefacientes, instruções para o uso e manejo do solo, navegação, teologia e conselhos veterinários. E foi publicado em português pela primeira vez em 1703, traduzido por Antônio da Silva Brito, e emendado de acordo com o Expurgatório da Santa Inquisição em 1632, com base na edição de Barcelona de 1625. Após as revisões, circulou com o título de El Non Plus Ultra del Lunario y pronostico perpetuo, general y particular para cada Reyno y Provincia. Mas ficou conhecido com o título reduzido de Lunário Perpétuo. Os exemplares mais antigos que resistem ao tempo são da edição de Madrid de 1598.
No Brasil, o almanaque conquistou a admiração de leitores das elites e do povo, e principalmente das famílias que moravam na região Nordeste atraídas em particular pelas previsões meteorológicas precisas que muito contribuíam para as atividades agrícola, pastoril e, também, pesqueira. O Lunário foi o livro mais lido nos sertões do Nordeste durante dois séculos, tornando-se uma importante referência na literatura popular nordestina.

O livreto passou de mão em mão: herdado, presenteado, guardado e conservado, com suas leituras e releituras assimiladas e propagadas que auxiliaram na educação de gerações de brasileiros no sertão – uma espécie de manual de uso diário, um livro de cabeceira -, pronto a orientar, instruir e ensinar aos seus leitores de maneira simples, bem humorada e esclarecedora os vários aspectos da vida.
Seus ensinamentos foram cuidadosamente apropriados e difundidos pelos “profetas das chuvas” que, nos dias hoje, em menor quantidade, ainda podem ser encontrados perambulando pelos sertões fazendo previsões do tempo. Conquistou também a admiração de personagens ilustres como Câmara Cascudo – que mantinha um exemplar em seu criado-mudo – e o cearense e historiador Capistrano de Abreu que, mesmo não acreditando em coisas do gênero, consultava o almanaque para se informar sobre os astros.
O Lunário Perpétuo se constitui em um dos mais valiosos instrumentos de conhecimento do Brasil. E para os leitores que desejam folhear esse almanaque, no setor de obras gerais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro encontra-se um exemplar restaurado pertencente a uma edição de 1805.