Mulheres Rendeiras – Mãos que tecem fios de tradição

03/01/2020 1 Por afs
Mulheres Rendeiras – Mãos que tecem fios de tradição
É no entrelaçar dos dedos com movimentos tão delicados, rápidos e precisos sobre uma almofada, onde há um encontro, em sintonia, entre as mãos, as linhas e os bilros ou as agulhas, que surgem os vários estilos de peças rendadas encontradas no Brasil: renda filé, renda renascença, renda labirinto etc.
A trajetória histórica do ofício das rendeiras tem início no final da Idade Média na Europa Ocidental. Em pouco tempo, a confecção de renda, praticada por moças de alta condição social, espalhou-se por todo continente, virando moda. Na França, por exemplo, as rendas destinavam-se a enfeitar as grandes golas, punhos, perneiras e busto das vestimentas da nobreza. Além do toque de elegância, passou a ser sinônimo de prestígio, distinção e poder. Chegou ao Brasil pelas mãos das famílias portuguesas colonizadoras a partir do século XVI, se desenvolvendo principalmente em determinados pontos de nossa costa litorânea. Em solo brasileiro sua prática se popularizou, tornando-se um importante elemento de nossa cultura popular. Assim, se mantém como tradição graças a transmissão de saberes entre mulheres da mesma família.

Os diversos tipos de renda produzidos por essas artesãs são divididos em duas formas de técnicas de trabalho: os bordados feitos com agulha e os confeccionados com bilros (pequenas peças feitas em madeira). Neste, no alto do cilindro de almofada, sobre um cavalete, é colocado o molde feito de papel, chamado pique, para guiar a rendeira, onde é fixado os fios com os bilros em suas pontas. Os locais a serem contornados pelos fios no desenho são modelados com alfinetes.
A partir daí, a rendeira começa o entrelaçamento com os bilros até o desenho aparecer bordado. Desse manuseio de fios, com inúmeros pontos que compõem a trama de bordado e com suas denominações curiosas: samambaia, aranha, espírito, trança, mataxim, ziguezague, entre outras, é que resultam peças coloridas, brancas e beges, com rara beleza e sofisticação como colchas, cortinas, toalhas de mesa, bolsas e blusas.

Com uma prazerosa dedicação ao elaborado trabalho artesanal e lembradas em canções, cordéis e histórias, as rendeiras resistem ao tempo e tentam repassar seus conhecimentos para manter viva a arte de tecer rendas, que, ainda hoje, estão presentes em cidades como Raposa, Maranhão; Fortaleza e Aquiraz, Ceará; João Pessoa, Ingá e Serra Redonda, Paraíba; Arraial do Cabo, Rio de Janeiro; Morro da Mariana, Piauí; Divina Pastora, Sergipe; Florianópolis, Santa Catarina.

Agradecimentos ao comércio na Feira de São Cristóvão: Loja Toca do Turista – Rua Pernambuco D-45 (97974-4688) e a lojista Cleide(loja de redes, bordados e tapetes na rua principal da feira)