Personagem da Feira de São Cristóvão – Betão da Paraíba, sanfoneiro sob a inspiração do presente de infância

06/06/2019 4 Por afs
Personagem da Feira de São Cristóvão – Betão da Paraíba, sanfoneiro sob a inspiração do presente de infância

Mesmo com a mãe dedicada as tarefas de casa e o pai pedreiro, a grande paixão de Edvan Dantas Silva é tocar sanfona desde que foi presenteado, aos 9 anos, pelo seu avô. Na ocasião, lhe foi imposta uma condição desafiadora para continuar com o presente: aprender a tocar a música Asa Branca.
Nascido em Campina Grande(PB), em 1962, Edvan foi criado na roça, no sítio Barra de João Leite, no município de Aroeiras(PB). O menino, mesmo com as limitações do local onde vivia, não desanimou e se lançou ao desafio. Percebeu na rádio local em sua programação diária e vespertina, com músicas de forró tocadas com o instrumento, uma grande oportunidade de ensaiar os primeiros acordes. Com o passar do tempo, começou a tocar só de ouvir, revelando-se um autodidata e cumprindo o desafio do avô.

Sem dinheiro, Edvan passou a trabalhar com seu pai como servente de pedreiro. Os ensaios e pequenas apresentações locais com o instrumento foram para o beleléu. Em 1981, uma viagem ao Rio de Janeiro para uma confraternização natalina em família, o jovem decidiu ficar na cidade maravilhosa. Aqui fez de tudo um pouco. Foi atendente de lanchonete e padaria, e porteiro de um condomínio. Poucos anos depois, sua mãe, numa dessas visitas à família, veio ao Rio e trouxe a sanfona, lhe proporcionando o reencontro com a sua verdadeira vocação: a música. “Tomei gosto de novo pra tocar”, diz Betão da Paraíba, jeito como é conhecido no cenário da música.
Logo, Betão voltou a se dedicar aos treinos com a sanfona, conciliando sua paixão com o trabalho no condomínio durante o dia. Não demorou para realizar apresentações nas casas noturnas Forró da Barra em 1987, e a famosa Asa Branca, na Lapa, entre 1990 e 96. Nos fins de semana, o paraibano matava as saudades de sua terra natal na Feira de São Cristóvão – um lugar dedicado aos bons momentos. Na aproximação e amizade com seus conterrâneos na feira, fez com que, em 2013, surgisse uma oportunidade de substituir um dos integrantes do grupo Trio Xodó, do vocalista Zé Matias. No entanto, teria que realizar um teste para se integrar ao grupo. “O teste já dura seis anos”, diz com bom humor.

A formação atual do trio passou a ser Betão na sanfona (também vocalista), o paraibano Doda(49) na zabumba e o sergipano Borracha(65) no triângulo. O Trio Xodó anima o público da feira aos sábados e domingos tocando o forró pé de serra – um gênero musical originário das festas de forró e a sua principal característica está no ritmo com letras que tematizam os diversos aspectos da vida do sertanejo nordestino.
Tradicionalmente, o ritmo é embalado pela combinação sonora dos trios instrumentais sanfona, zabumba e triângulo. No repertório musical, clássicos do forró do fabuloso Luiz Gonzaga (Asa Branca e A Minha Vida é Andar por Esse País) e Dominguinhos (Isso Aqui Tá Bom Demais e Eu Só Quero um Xodó) entre outros.
Desde que começou na feira, esse sanfoneiro talentoso e sorriso largo, passou a se dedicar somente à música, realizando apresentações em festas, clubes e restaurantes.”Trabalho não falta”, dispara.
Hoje nutre um enorme orgulho pelo filho Bergson(23), que segue seus passos deslizando os dedos com firmeza e maestria nos teclados da sanfona. Se diz feliz em estar na cidade que o acolheu e adora a Feira de São Cristóvão. “A feira é tudo pra nós, pro povo, é um centro nordestino. A cultura nordestina está toda aqui. Todo mundo se inspira na Feira de São Cristóvão. No forró pé de serra, no repentista. A feira é muito boa”, finaliza